segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Um género de ideia

Passava os olhos pelo JN, na tranquilidade típica de quem procura novidades em tempo de férias e, comummente, constata a sua escassez.
Felizmente, o dr. Paulo Portas não se esquece de nós, muito menos do país. E a proposta de hoje, apesar de incidente sobre uma matéria a que se refere a cada 20 minutos, chega-nos com alguma inovação.

"Rendimento Social de Inserção: CDS defende pagamento em géneros". Ah pois!
Isto para combater a fraude, já que, segundo o doutor Portas, "este país avança com trabalho, avança com aqueles que contribuem para a riqueza da nação e não com financiamentos à preguiça".
Se o objectivo é mesmo fazer avançar o país, questiono-me porque é que os nossos impostos continuam a pagar avultados salários a deputados faltosos, que se esquecem dos debates quinzenais (sim, sim, eu e o engenheiro Sócrates damos por deles). Ou não chamamos a isso preguiça?
Pergunto-me porque é que o povo português não deixa de pagar àqueles partidos políticos que só vão às feiras e mercados que lhes interessam, deixando inúmeras comerciantes sem beijinhos e palmadinhas nas costas (assim como quem não quer a coisa).

Semeada a dúvida, pelo habitual cepticismo que me liga às propostas do CDS-PP, volto ao cerne da questão. Ora bem...pagamento em géneros?!?
Hum, se eu fosse militante do Bloco estaria já pronta a investigar a questão, a ver se por acaso não haveria aí interesses particulares, favorecimentos ao sector empresarial, jogos sujos de corrupção ou de qualquer outra coisa que os ricos gostem de fazer.
Mas a verdade é que não sou. Nem estou disposta a procurar desvendar a estratégia política que envolve a dita proposta. Até porque já percebi tudo.
Ora, se o dr. Portas vai visitar cerca de 86% dos mercados portugueses no período pré-eleitoral que se avizinha, não admira que o espaço de sua casa venha a ser pouco para albergar todas as couves, alfaces e seus derivados, que irá receber em jeito de demonstração de afecto. E quem melhor para consumir as sobras do que "aqueles gajos que recebem o rendimento mínimo"?

Mas não está mal. Aliás, até os prestadores de serviço público irão ganhar com esta medida. Vejam só...se o beneficiário do rendimento social passa a receber géneros, o beneficiário do rendimento social também passa a pagar as suas contas em géneros. E a conta da luz já não vai ser de 24.90 euros, mas antes de 5kg de arroz, 1 embalagem de lasanha ultracongelada e 12 fatias de pão de forma integral (começo a imaginar as jantaradas que se farão entre os sócios da EDP...).
O próprio passe da carris pode passar a custar uma embalagem de carne picada e uma caixa de cereais com pepitas de chocolate. Para os trocos, podem começar a utilizar-se peças de fruta à unidade, pacotes de sal, triângulos de queijo fundido...

A única desvantagem que aponto a esta proposta é que, eventualmente, poderá vir a elevar os níveis de colesterol e glicémia entre os mais pobres. E depois vai ter que haver quem pague o acréscimo de financiamento ao Serviço Nacional de Saúde...ou acaba-se já com ele?

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